Textos para 7ª série / 8º ano – 3º bimestre

A apropriação desigual dos recursos naturais.

Como fazemos parte de uma civilização extremamente dependente da exploração de recursos minerais, vamos analisar inúmeras situações da vida cotidiana relacionadas ao uso e à apropriação destes recursos. Para isto, diferenciaremos os conceitos de recurso mineral, reserva mineral, minério, lavra e mina.
Em primeiro lugar, a expressão recurso mineral diz respeito aos materiais rochosos que são utilizados ou podem ser explorados para uso humano. Estes recursos podem ser divididos em diferentes categorias, de acordo com o grau de conhecimento técnico, interesse e viabilidade econômica. Assim, a reserva mineral é parte do recurso mineral identificada e reconhecida pelo seu valor econômico. Dependendo do grau de concentração de substâncias minerais numa determinada reserva, maior será sua viabilidade econômica. Minério é o material rochoso com alta concentração de substâncias que interessam economicamente à atividade extrativa. O local onde o minério é explorado denomina-se jazida mineral e a lavra é o conjunto de operações necessárias para retirada do minério da jazida.
Substâncias minerais, como ferro, manganês e chumbo, participam da composição química média da crosta terrestre e, portanto, numa jazida mineral, concentram-se em maior quantidade. O ferro, por exemplo, pode ser encontrado em diversos tipos de rocha na forma de hematita (Fe2O3). O que difere a jazida mineral de ferro de outros materiais rochosos é o seu grau de pureza. As jazidas viáveis economicamente são aquelas formadas praticamente por hematita concentrada. As jazidas minerais em exploração são denominadas de minas.
Como os recursos minerais resultam da concentração de substâncias nos materiais rochosos, seu tempo de formação é muito mais longo (milhões de anos) do que a velocidade de sua exploração econômica. Por causa disto, o que estará em discussão é o uso de recursos minerais não-renováveis, pois sua extração é altamente impactante e exige  a discussão da conservação do recurso e de sua exploração sustentável. Por exemplo, na sala de aula o piso pode ser de madeira ou cimento queimado, substituindo a cerâmica; as janelas, se fossem de madeira, poderiam ser substituídas por estruturas metálicas, e assim sucessivamente.
Resíduo sólido não é lixo

            Qual a diferença entre resíduo e lixo? 

De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, lixo é qualquer objeto sem valor ou utilidade ou detrito oriundo de trabalhos domésticos, industriais etc. que se joga fora; resíduo sólido é um termo que tem sido comumente utilizado para substituir a palavra lixo.
            Na expressão “resíduo sólido” está a idéia implícita de reutilização do material, ou seja, a valorização daquilo que aparentemente não serve para mais nada. Por exemplo: um dos resíduos acumulados diariamente no pátio e na cantina da escola é a lata de refrigerante consumida na escola.
            Observe o cartaz elaborado pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade sobre o processo de transformação das chapas de alumínio em latas, na página 8 e 9 da sua apostila:
- 74 latas produzidas consomem 1 kg de alumínio;
- com uma chapa de alumínio de 1 m de comprimento por 1,72 m de largura podem ser produzidas 99 latinhas.
Agora observe o cartaz da reciclagem na página 10, que apresenta o processo de reutilização das latinhas:
- o alumínio é um minério oriundo da bauxita e para extraí-lo é necessário passar por um processo químico de eletrólise que utiliza grande quantidade de água;
- cada 1000 kg de alumínio reciclado representam 5000 kg de minério bruto (bauxita) poupados. A reciclagem do alumínio também é uma grande economia de energia, pois são gastos apenas 5% da energia necessária para se produzir o alumínio primário (o que não é produto de reciclagem).
            Além da reutilização de recursos minerais, uma questão ambiental importante é a do consumo abusivo estimulado pela propaganda. Precisamos encontrar alternativas de redução do consumo de refrigerantes na escola, analisando inclusive implicações relativas à saúde da população em torno dos hábitos alimentares. Podemos substituir os refrigerantes por sucos naturais ou água. Quanto aos recipientes,o uso de copos de plásticos reaproveitáveis fornecidos pela cantina ou mesmo copos de responsabilidade de cada usuário, dentre outras idéias.

A produção desigual dos recursos minerais
            Os recursos minerais, mesmo que renováveis, são finitos, uma vez que o crescimento do consumo ocorre num ritmo maior do que o processo natural de formação das jazidas minerais. Porém, do ponto de vista físico-químico, os recursos minerais são praticamente inesgotáveis, na medida em que tais substâncias fazem parte da composição da crosta terrestre. O problema decorre da relação entre consumo e viabilidade econômica e tecnológica. Nesse sentido, havendo tecnologia disponível a baixo custo para a extração de minérios com menor grau de concentração, as reservas existentes poderiam ser enormemente ampliadas.
Outro aspecto importante para o sucesso da extração do minério refere-se à sua localização. Uma jazida mineral pode apresentar alto grau de concentração de minério, mas ao encontrar-se distante dos grandes centros consumidores, aumenta consideravelmente o custo do transporte, podendo tornar-se economicamente inviável. Também devemos considerar como fatores limitantes: a escassez de água necessária para a obtenção de muitos produtos minerais e as condições limitadas de oferta de energia.
Como a distribuição das jazidas minerais pela superfície terrestre é irregular, uma primeira diferenciação entre os países pode ser feita em termos dos estoques e reservas de minerais existentes em função das condições geofísicas continentais. Nas bacias sedimentares são encontrados os recursos minerais energéticos, como o carvão, o gás e o petróleo. As principais estruturas rochosas sedimentares no caso brasileiro estão localizadas na Amazônia, Maranhão, Pantanal e Paraná. Dentre as estruturas rochosas cristalinas, onde se localizam as jazidas minerais de manganês, ferro, níquel, diamante, urânio, dentre outros, destacam-se os escudos das Guianas, o Atlântico, o do Brasil Central e o Uruguaio sul-riograndense. As principais ocorrências de bauxita, principal minério da produção de alumínio, também estão localizadas nas bacias sedimentares.
Qual seria a diferença das substâncias minerais incrustadas nas rochas cristalinas em relação àquelas existentes nas rochas sedimentares? O processo de formação destas rochas: as rochas cristalinas têm formações geológicas bem mais antigas do que as sedimentares, datando-as no arqueozóico e proterozóico, e, portanto, consideradas pré-cambrianas. Essas rochas foram submetidas à temperatura e pressão elevadas, o que propiciou a formação de cristais microscópicos, favorecendo, pela lentidão de sua formação, a concentração de certas substâncias minerais. No caso da rocha sedimentar, como o próprio nome diz, elas foram formadas pelo acúmulo de sedimentos em bacias de sedimentação que, do ponto de vista geológico, formaram-se a partir da era paleozóica, e, portanto, mais recentes que as cristalinas. O recurso mineral se formou por soterramento e confinamento de elementos debaixo de muitas camadas sedimentares, sendo de origem orgânica, como no caso do carvão mineral e do petróleo, ou de origem mecânica, como é o caso do ouro encontrado em bacias sedimentares.
O ouro é uma substância mineral que pode ser encontrada tanto nas rochas cristalinas quanto em bacias sedimentares. O que explicaria isto? Qual jazida se formou primeiro? O território brasileiro foi formado por estruturas superpostas de diferentes épocas. As rochas cristalinas são muito mais antigas e, portanto, o ouro existente nos escudos se formou primeiro, depois de um longo processo de resfriamento das rochas. Com o processo de erosão e deposição do material erodido nas depressões e fundos de vale, formaram-se as jazidas de ouro das bacias sedimentares.
Mas a irregularidade na distribuição dos recursos minerais é apenas um aspecto da diferencialidade espacial da produção mineral. Mais importante do que isto, é considerar a relação profundamente desigual entre os centros produtores e consumidores no mercado mundial de minérios.
O mapa “Mundo: exportação de ferro, produção de aço”, da página 5 do caderno do aluno, é um exemplo do mercado mundial do ferro. Identificamos na sua legenda que o Brasil, a Austrália, a China, a Índia e a Rússia são os principais produtores mundiais de ferro. Todos eles não utilizam a totalidade do ferro extraído, menos a China. O excedente da produção é exportado, principalmente da Austrália e do Brasil. A China, apesar de ser uma grande produtora de ferro, necessita importar o minério para suprir a quantidade que consome. Os quatro principais consumidores mundiais de ferro são China, Europa, Japão e Estados Unidos. A situação mais complicada de dependência do mercado mundial destes grandes consumidores de ferro é a do Japão (que não produz ferro) e da Europa (cuja produção é insuficiente). Os Estados Unidos é quase auto-suficiente, mas necessita complementar a produção nacional com fornecedores externos. O mesmo ocorre com a China, embora em proporções maiores.

Desmatamento, poluição dos rios e da atmosfera.

Até aqui, vocês puderam analisar a importância da produção e consumo de recursos minerais para o desenvolvimento econômico mundial. Da mesma forma, tiveram oportunidade de se conscientizar da necessidade de alternativas de exploração dos recursos minerais com a devida preocupação em preservar o meio ambiente.
A mineração, por mais criteriosa que seja, resulta na separação do minério concentrado e do rejeito, que é altamente poluente e danoso ao ambiente. A mineração provoca desmatamento. Além disso, algumas substâncias usadas na lavra são altamente tóxicas. É o caso do mercúrio utilizado na lavra do ouro, por exemplo, freqüentemente contamina os cursos d’água e o solo por longos períodos. A lavagem de minerais pesados, como a cassiterita, provoca o assoreamento de rios com enormes volumes de outras substâncias minerais.
Freqüentemente, a extração mineral também provoca impacto em escala global. A indústria extrativa necessita de muita energia. Se a usina geradora de energia for termoelétrica, por exemplo, a queima de combustível fóssil aumenta a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, causando impacto em escala global.
A BR-163 é uma das estradas mais polêmica da atualidade: conhecida como Rodovia Cuiabá-Santarém,  esta rodovia corta a Floresta Amazônica em 1500 km e necessita ser pavimentada para se transformar num corredor de exportação da soja cultivada no Mato Grosso, que poderia ser escoada pelo terminal portuário de Santarém. Por sua vez, os ambientalistas criticam o projeto porque já se sabe que as rodovias construídas na Amazônia favorecem o escoamento de madeira e gado, responsáveis pelo acelerado desmatamento da Floresta.

Água: um recurso finito
            Usualmente, a água é compreendida como um componente básico e abundante no planeta Terra, constantemente renovada por meio de um ciclo que mantém a troca permanente entre os reservatórios (oceanos, águas subterrâneas, rios, calotas glaciais) por meio da evaporação / transpiração, condensação / chuvas, infiltração / percolação (chuva que cai e escorre, ou seja, não exerce pressão sobre a superfície), dentre outros processos. Mas em função da poluição das águas e da distribuição profundamente desigual, tem crescido a idéia de que se trata de um recurso finito. Afinal, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável. Enquanto um habitante dos Estados Unidos consome em média 400 l de água, um habitante do Quênia não passa de 5 l diários. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o acesso à água é um direito de todo cidadão e estabelece 80 litros por habitante como o consumo mínimo diário para manter a saúde.
            O mapa “Mundo: disponibilidade de água por habitante, 1950, 1995 e 2025”, da página 18 do caderno do aluno, apresenta o agravamento da escassez de água potável no planeta. No caso brasileiro, é importante lembrar que 60% dos recursos hídricos disponíveis estão localizados em regiões distantes dos grandes centros urbanos, como São Paulo.

A interferência humana no efeito estufa
            A mídia tem dedicado grande atenção em relação ao aquecimento global. Em primeiro lugar, é preciso desmistificar e esclarecer alguns aspectos que envolvem a questão:
- gases existentes na atmosfera – como o vapor d’água, o gás carbônico (CO2), o metano (CH4) e o ozônio (O3) – evitam a dispersão da energia solar, aquecendo a Terra;
- sem os chamados gases-estufa, a Terra seria muito fria e não existiria vida no planeta;
- de fato, as atividades humanas desenvolvidas nos últimos 100 anos, promovidas pela industrialização, expansão do agronegócio e crescimento das cidades, têm contribuído para a concentração de gases-estufa na atmosfera.
            A tabela “Gases estufa”, da página 18 no caderno do aluno, detalha as fontes humanas que intensificam o efeito estufa, juntamente com a efetividade da absorção da energia solar por estes gases. Em termos de partículas por milhão, o dióxido de carbono é de longe o gás-estufa mais emitido pelas atividades humanas, uma vez que a matriz energética que moveu o processo de industrialização teve por base os combustíveis fósseis (estudado no 2º. bimestre). Os gases CFC têm um grande potencial de destruição das camadas de ozônio, que protegem a superfície terrestre dos raios ultravioleta e absorvem e conservam 10 mil vezes mais energia solar que o CO2.

Do Clube de Roma ao desenvolvimento sustentável

A preocupação internacional com os temas ambientais ganhou uma nova dimensão no início da década de 1970, com a fundação de organizações ambientalistas de atuação global (o Greenpeace, por exemplo, nasceu em 1971) e com a realização da 1ª Conferência da ONU dedicada às questões ambientais.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (Suécia) em 1972, foi fortemente influenciada pela teoria desenvolvida pelo Clube de Roma, um grupo formado no final da década de 1960 por cientistas, economistas e altos funcionários governamentais com a finalidade de interpretar o “sistema global”. De acordo com o pensamento deste grupo, sintetizado no relatório Os limites do crescimento, publicado em 1971, o planeta é um sistema finito de recursos naturais submetido às pressões do crescimento da população e da produção econômica. Portanto, para evitar o colapso iminente do “sistema global”, era preciso gerenciar globalmente o crescimento da população e da economia, de forma a alcançar um estado de equilíbrio dinâmico. Severas medidas de controle da natalidade, principalmente nos países pobres, e mudanças radicais nos modelos produtivos, com ênfase numa “economia de serviços”, eram as recomendações centrais desta escola de pensamento ecológico.
Duas décadas depois, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, ainda sentiu o impacto das teorias do Clube de Roma, principalmente sob a forma das abordagens e propostas apresentadas pelos países desenvolvidos. Mas, no intervalo entre elas, importantes transformações ocorreram, tanto nas sociedades como no debate ambiental. A ECO-92 foi, principalmente, palco da crítica às teorias do Clube de Roma.
Os críticos do Clube de Roma não enfatizam o crescimento demográfico, mas os padrões de produção e consumo e as bases tecnológicas do desenvolvimento econômico. Sob esse ponto de vista, as principais ameaças ambientais de dimensão global residem na reprodução dos modelos econômicos dos países desenvolvidos. Esses modelos não seriam sustentáveis, em virtude do elevado consumo de recursos naturais, da geração de gases-estufa e rejeitos poluentes dos mais variados tipos. As idéias fundamentais do Clube de Roma preconizavam (recomendam com louvor) o controle sobre o crescimento da população (principalmente nos países pobres) e das economias. O planeta tem um estoque limitado de recursos e com capacidade igualmente limitada de sustentar a vida humana.
A ECO-92 vinculou meio ambiente e desenvolvimento. Ela foi dominada pelo conceito de desenvolvimento sustentável, divulgado inicialmente por meio do relatórioNosso futuro comum, assinado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU e publicado, originalmente, em 1987. Por oposição ao mero crescimento econômico, o desenvolvimento sustentável só existe quando são cumpridos os requisitos ambientais para a continuidade, através do tempo, dos padrões de produção e consumo desejados.
O relatório Nosso futuro comum atribui aos modelos econômicos de produção e consumo, amplamente adotados nos países ricos, a principal fatia da responsabilidade pela crise global. Nesta nova perspectiva, a crise ambiental é global, ou seja, afeta o conjunto do planeta, mas as responsabilidades são diferenciadas, cabendo a maior parcela aos países que consomem e / ou devastam a maior parte dos recursos naturais. Além disso, nos termos do relatório, limitar o crescimento das economias e da população não é o caminho para atingir um modelo de desenvolvimento sustentável: é preciso garantir a satisfação das necessidades humanas, no presente e no futuro. Algumas idéias centrais do relatório:
- O desenvolvimento sustentável só ocorre quando as necessidades do presente são atendidas de maneira a não comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades;
- O desenvolvimento sustentável implica a satisfação universal das necessidades essenciais. Para que isso ocorra, é preciso que haja crescimento econômico nas regiões onde tais necessidades não estão sendo atendidas; nas regiões onde elas já são atendidas, pode haver crescimento econômico desde que sejam respeitados os princípios de sustentabilidade ambiental. Mas o crescimento econômico só é compatível com o desenvolvimento sustentável se, ao mesmo tempo, aumenta o potencial de produção de riquezas e assegura que essas riquezas sejam usufruídas pelo conjunto da sociedade.
As convenções e tratados, lançados durante a ECO-92, buscavam transformar este princípio em planos de ação capazes de redimensionar os padrões de produção e consumo, sobretudo nos países ricos. Entre elas, estão a Convenção sobre mudanças climáticas e a Convenção da diversidade biológica. Além disso, todos os participantes se comprometeram com a Agenda 21, um vasto programa de ações de curto, médio e longo prazo destinado à recuperação dos ambientes degradados e à promoção da sustentabilidade ambiental.

As escalas do desenvolvimento sustentável

            A sustentabilidade só pode ser alcançada se ela estiver na base de programas de ações globais, nacionais e locais. Na escala global envolve acordos multilaterais, por meio dos quais os governos assumem em conjunto metas e compromissos voltados a evitar a degradação do planeta e promover a satisfação das necessidades essenciais. A promoção do desenvolvimento sustentável exige ações, em escala global, porque os impactos ambientais não respeitam as fronteiras entre os países e nenhum país vai conseguir sozinho enfrentar a crise ambiental. Trata-se, portanto, de desenvolver o conceito de interdependência ecológica, que explica, por exemplo, que a poluição produzida em um país se torna um problema climático em outro. Por isso, são necessários os tratados e convenções internacionais sobre o ambiente.  Na escala nacional envolve políticas que regulam e estruturam o uso dos recursos naturais: as convenções e as metas globais devem ser incorporadas e adaptadas por meio de políticas que regulem e estruturem o uso dos recursos naturais em todos os países do mundo. Afinal, apesar dos acordos internacionais, os governos nacionais são soberanos na gestão de seu patrimônio ambiental. Já na escala local, envolve um conjunto de práticas ambientalmente sustentáveis, que podem e devem ser adotadas por todos: a sustentabilidade não implica apenas os governos, mas só será efetiva se incorporada ao modo de vida de todas as pessoas. Portanto, o consumo responsável, a adoção de práticas cotidianas que visam minimizar a degradação ambiental, tais como a coleta seletiva de lixo e a reciclagem, e a conscientização sobre as questões ambientais são essenciais para a promoção da sustentabilidade.
Por isso, os programas e as ações voltados para cada uma dessas escalas são importantes.

A Convenção sobre diversidade biológica e a Convenção sobre mudanças climáticas

            Considerando a escala global, os mais importantes tratados ambientais foram aprovados originalmente na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro. São eles: a Convenção sobre diversidade biológica e a Convenção sobre mudanças climáticas.
A Convenção sobre diversidade biológica, hoje aceita por mais de 160 países, é uma tentativa de frear a destruição acelerada das florestas pluviais tropicais que vem ocorrendo nas últimas décadas (veja o mapa “Florestas originais e florestas remanescentes”, da página 23 no caderno do aluno). Estima-se que estas florestas abriguem mais de 70% das espécies vegetais e animais conhecidos, o que justifica a preocupação internacional com o ritmo de desmatamento. A Convenção propõe metas internacionais de controle do desmatamento e da perda de espécies, mas reconhece o direito soberano dos Estados sobre os recursos biológicos existentes no território nacional. Entretanto, diversos movimentos ambientalistas argumentam que as florestas tropicais são patrimônio comum da humanidade, pois abrigam estoques biológicos valiosos e exercem influências climáticas planetárias. Por outro lado, para os países subdesenvolvidos nos quais se situa a maior parte destas florestas, a exploração de seus recursos pode ser essencial para a economia, gerando crescimento. A madeira das matas e os recursos minerais do subsolo, por exemplo, geram receitas de exportações. A construção de barragens e usinas, para aproveitamento das quedas d’água, é capaz de fornecer eletricidade para impulsionar as indústrias. As terras desmatadas podem dar origem a campos de cultivo, aumentando a produção de alimentos. Os países desenvolvidos querem que as florestas e o valioso patrimônio biológico que elas abrigam sejam preservados, mas muitas vezes, os países subdesenvolvidos não dispõem de capitais e tecnologias suficientes para usar, de modo não predatório, seus recursos florestais. Uma alternativa para a resolução deste impasse seria a transferência de tecnologias e de capitais dos países desenvolvidos para os países nos quais se localizam as florestas.
Na Convenção sobre mudanças climáticas, os países desenvolvidos comprometeram-se a congelar, até o ano 2000, as emissões de CO2, nos níveis registrados em 1990. Poucos anos após a adoção da Convenção, tornou-se claro que o compromisso de congelamento das emissões não seria cumprido pela maior parte dos países desenvolvidos, especialmente pelos Estados Unidos. Em 1997, o Protocolo de Kyoto foi anexado à Convenção, fixando para os países desenvolvidos uma meta de redução de 5% sobre os níveis de emissões de 1990, a ser atingida entre 2008 e 2012. Além disso, criou um sistema de comércio de créditos de emissões entre os países. Por enquanto, a meta de emissões é válida apenas para os países desenvolvidos, que passaram a ter duas opções: ou investem na redução das emissões ou compram de outros países os créditos de emissões (ou seja, o direito de lançar gases-estufa), que seriam comprados principalmente de países subdesenvolvidos. Para o início da vigência do Protocolo de Kyoto, foi estabelecido que seria necessária a ratificação (validação) de pelo menos 55 países, responsáveis por pelo menos 55% das emissões de CO2 produzidas pelo conjunto dos países desenvolvidos. Estas condições só foram atingidas em 2004, com a adesão da Rússia, e o Protocolo finalmente entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005. Porém, os Estados Unidos, principal emissor de gases-estufa do mundo, recusou os termos do Protocolo. Pelo menos, nesta fase, há uma relação entre o princípio da responsabilidade diferenciada, preconizada pelo relatório Nosso futuro comum e os termos do Protocolo de Kyoto: apenas os países desenvolvidos devem cumprir as metas de redução de emissão dos gases de efeito estufa, pois eles são os maiores responsáveis pela crise ambiental que assola o planeta.

A Agenda 21 brasileira

            Além das Convenções, a ECO-92 também aprovou a Agenda 21, um programa de ações a ser adotado por todos os países a fim de recuperar os ambientes degradados e promover o desenvolvimento sustentável. No caso do Brasil, a Agenda 21 está estruturada em torno de cinco grandes dimensões e de vinte uma linhas estratégicas, apresentadas na tabela “Agenda 21 Brasil: dimensões e linhas estratégicas”, da página 26 no caderno do aluno. Estas dimensões são importantes para a promoção do desenvolvimento sustentável, pois o conceito de desenvolvimento sustentável é a expressão de estratégias econômicas destinadas a promover o crescimento da riqueza e a melhora das condições de vida através de modelos de crescimento capazes de evitar a degradação ambiental e a exaustão dos recursos naturais. Assim, o desenvolvimento sustentável admite o crescimento econômico, desde que ele cumpra os requisitos necessários à continuidade, através do tempo, dos padrões de produção e consumo desejados. A dimensão econômica, por exemplo, apresenta a idéia de que o combate à pobreza faz parte da promoção do desenvolvimento sustentável. Na linha político-institucional, as estratégias são voltadas à promoção da democratização dos processos decisórios. A busca do desenvolvimento sustentável não envolve apenas a dimensão ambiental, mais óbvia, mas diz respeito também às dimensões econômicas, sociais, políticas e educacionais. A própria abordagem destes temas em sala de aula faz parte da estratégia de promoção do desenvolvimento sustentável.

Alterações climáticas e desenvolvimento: análise do Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008

            Vamos analisar as informações e conclusões extraídas do Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O combate às alterações climáticas que ocorrem em escala global é o tema principal deste relatório, que analisa a interferência humana sobre o efeito estufa e apresenta informações sobre os principais gases de efeito estufa, sobre o aumento das emissões e da concentração destes gases na atmosfera e sobre as atividades humanas responsáveis por este aumento. Vamos sistematizar seus conhecimentos a respeito das causas e das conseqüências deste fenômeno.
            De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, que pode ser acessado na íntegra no site do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, devido ao aumento da concentração de gases de efeito estufa, as temperaturas médias globais podem aumentar em mais de 5°C ainda no século XXI, se nenhuma providência for tomada.Gases de efeito estufa e aquecimento global
            Algumas idéias centrais do relatório estão na página 28 do caderno do aluno. Vamos ler, observando as relações entre o modelo de produção e consumo vigente nos países ricos e a concentração de atividades emissoras de gases de efeito estufa nestes países. A pobreza e a falta de tecnologias tornam os países pobres mais vulneráveis às alterações climáticas.
            Ao longo de sua história, a Terra tem sofrido oscilações entre períodos mais quentes e períodos mais frios, resultantes da atuação de diferentes forças naturais, tais como a atividade vulcânica e as mudanças na órbita do planeta. Porém, as alterações climáticas que estão ocorrendo desde meados do século XIX são demasiadamente rápidas e intensas para serem atribuídas aos ciclos naturais: somente nos últimos cem anos, a temperatura média da Terra aumentou em 0,7°C.
            De acordo com a comunidade científica, existe uma probabilidade superior a 90% de que a maior parte deste aquecimento se deva aos gases de efeito estufa emitidos pelo homem. Os três gráficos “O aumento das emissões de CO2 está piorando os índices e fazendo subir as temperaturas”, da página 27 do caderno do aluno, reforçam essa tese, na medida em que sugerem uma relação entre o aumento da emissão e da concentração de CO2 na atmosfera e a elevação da temperatura global. Os registros climáticos revelam que 11 dos 12 anos mais quentes, desde 1850, ocorreram entre 1995 e 2007, reforçando a tese que vincula o aquecimento global à interferência humana – os picos de temperatura coincidem com os picos de concentração de CO2 na atmosfera.

A pegada de carbono

            Já estudamos a importância do aumento da concentração de gás carbônico no processo de aquecimento das temperaturas atmosféricas globais do planeta. Devido a este fato, analisar a variação global das emissões de CO2 é uma maneira eficiente de medir a responsabilidade de cada país na alteração climática que afeta a todos.
Vamos interpretar o mapa “Registro da variação global das emissões de CO2” da página 29 no caderno do aluno. Identificamos os cinco maiores países emissores mundiais de CO2 em 2004: Estados Unidos, China, Federação Russa, Japão e Índia. A participação relativa destes países nas emissões globais, registradas em 2004, em relação ao total mundial é de 15,1 Gts de CO2 (soma da emissão de cada país), o que representa pouco mais de 52% do total das emissões mundiais de 2004. Entretanto, se considerarmos o tamanho das populações dos países e regiões, o panorama difere substancialmente. Dividindo-se a quantidade de emissões dos países pela sua população total, obtemos as emissões per capita. Este valor equivale a “pegada de carbono”, a responsabilidade efetiva de cada país ou região do globo nas emissões globais, ajustadas pelo tamanho de suas populações, ou seja, a quantidade per capita de CO2 emitida por cada um dos países ou regiões do globo.
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 apresenta alguns exemplos de desigualdades mundiais em termos de “pegadas de carbono”, que valem a pena serem analisados:
- o Reino Unido (60 milhões de habitantes) emite mais CO2 do que o Egito, a Nigéria, o Paquistão e o Vietnã em conjunto (população total de 472 milhões);
- o Texas, estado norte-americano com 23 milhões de habitantes, emite mais CO2 do que o conjunto dos países da África Subsaariana, que abriga 720 milhões de pessoas;
- os 19 milhões de pessoas que vivem no estado de Nova Iorque (Estados Unidos) têm uma “pegada de carbono” mais elevada que aquela deixada pelos 766 milhões de pessoas que vivem nos 50 países mais pobres do mundo.
Com apenas 15% da população mundial, os países ricos atingem 45% das emissões de CO2. As “pegadas de carbono” deixadas pelos países ricos tendem a ser mais profundas porque eles consomem a maior parte dos recursos energéticos, concentram a maior parte dos parques industriais e as maiores frotas de automóveis. Considerando as emissões per capita, ou seja, a “pegada de carbono”, a China apresenta valores que correspondem a cerca de 1/5 dos valores apresentados pelos Estados Unidos. Portanto, não é verdade que ambos os países possuam responsabilidade equivalente no que diz respeito às alterações climáticas. Estados Unidos, Canadá, China, Egito, Brasil, Vietnã, Índia, Nigéria e Bangladesh aumentaram suas emissões per capita entre 1990 e 2004 e apenas a Federação Russa, Reino Unido e a França reduziram suas “pegadas de carbono”.


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